domingo, 21 de julho de 2019

Relato do João Carlos sobre a Ultramaratona dos Perdidos 80K 2019

Por João Carlos S/A
Ultramaratonista de São Paulo
Canal Filosofia, Maratonas e Aventuras do YOUTUBE
A Ultramaratona dos Perdidos começa bem antes da largada. A prova é realizada na Cidade de Tijucas do Sul no Estado do Paraná. A maioria dos atletas saem de Curitiba (70 km de distância) para a largada da corrida.
            Um ônibus da organização traz os atletas de Curitiba até o local da largada. Saímos nesse ônibus de Curitiba às 19h30min e chegamos na Fazenda dos Perdidos por volta de 21h10min. Alguns atletas chegaram de veículos próprios e outros, os mais ricos, chegaram de taxi. Às 22h30min praticamente todos os atletas que largariam os 80K já estavam nas imediações da largada.
              Com todos os atletas no local da largada, inicia-se a conferência dos itens obrigatórios, entrega dos kits e muitos aproveitam para se alimentar nesse momento, destaca-se que a organização disponibiliza um restaurante onde pode ser comprados caldos e alimentos de fácil digestão dos atletas que largarão a meia noite. Destaca-se que aqueles que não tiverem todos os itens obrigatórios, a organização disponibiliza uma loja onde esses itens podem ser comprados.
            Tudo pronto! O momento da largada se aproxima. Um problema é trazido aos atletas pela organização: “OS KITS QUE SERIAM ENTREGUES NA LARGADA NÃO CHEGARAM”. O organizador, para não atrasar mais ainda a largada, determinou que os atletas sem números largassem e que seus números seriam entregues no KM 34, o primeiro LOOP da prova. Com aproximadamente 10 minutos de atraso, quando o locutor foi dar à largada, A APARELHAGEM DE SOM FALHOU e tivemos que cronometrar à largada no grito. FOI O COMEÇO DA EMOÇÃO!
            Largamos e fizemos uma curva à esquerda, começo da pequena estrada de acesso a Fazenda e, mais a frente, dobramos à direita temos uma pequena subida de estrada de chão até chegar no viaduto da rodovia, onde passamos por baixo da estrada com o apoio da organização. Em seguida, entramos em um trecho com trilha de mata cortada recentemente. O risco de torção nos pés é muito grande nesse trecho, que dura em torno de 2km.
A TRILHA DO CASTELHANOS
             Depois dessa trilha, chegamos no início de uma estrada de chão ainda iluminada pelas luzes da rodovia. Quando olhamos para o início da estrada, claramente observamos o surgimento de uma enorme escuridão em sua continuidade. Depois de alguns quilômetros, a escuridão total toma conta da estrada e começamos longos trechos de subidas e descidas em estrada de chão com pedras e lamas em alguns trechos.
            Por doze quilômetros os atletas começam a se dispersarem no trajeto. Algumas mulheres correm com um amigo ou parente ao lado. No meu caso, a escuridão e o frio foram meus companheiros. Entre os km 12 e 13 encontramos um grupo de controle da organização. Eles surgem repentinamente na escuridão. Percebi que era apenas um controle, pois não distribuem nada aos atletas. Um alívio para quem só vê escuridão, subidas e descidas.
               Depois do km 13, temos um elemento a mais no trajeto: O FRIO!
            Por volta do km 15, chegamos na famosa ponte suspensa onde temos uma pessoa da organização de um lado e outra no final da ponte que, por sinal, apresenta várias tábuas soltas, redes laterais rasgadas e balança muito se tentar correr nela.
         Depois dessa ponte, continuamos um trecho de muito frio e lama na estrada que só vai acabar no famoso CASTELHANOS. 
             No km 18, finalmente cheguei ao posto de apoio do CASTELHANOS. Ao chegar, por volta de 2h35min da manhã, fui informado que era o 62º e tinha somente mais dois depois de mim. Contei que tinham 69 inscritos e vi um atleta desistente neste posto. Bebi um copo de sopa, um copo de coca cola, reabasteci de água a mochila de hidratação e reiniciei a corrida na companhia do penúltimo, que me alcançou naquele momento. 
A SUBIDA À FAZENDA DOS PERDIDOS
       Agora com companhia, percorri alguns quilômetros conversando, mas chegamos em algumas descidas que resolvi aproveitar e me distanciei do meu colega. Essas descidas só surgiram até o km 25, onde reiniciamos uma dura subida e fui ultrapassado pelo colega que conheci no Castelhanos.
        Agora sozinho, em uma longa subida, a escuridão e o frio ressurgem. Porém, em alguns pontos, temos luz de algumas casas que surgem na estrada. O psicológico começa a atrapalhar. Preciso chegar por volta de 6hs da manhã, mas a dura subida dificulta essa previsão.
            Por volta das 6h20min consegui chegar novamente na estrada ao lado da rodovia. Entrei novamente na trilha de acesso a estrada da fazenda dos perdidos e, por volta de 6h45min, cheguei no km 34. O PRIMEIRO LOOP FOI COMPLETADO.
            Ao chegar no Sítio dos Perdidos, km 34, entrevistei um staff que mostrou o Morro dos Perdidos e indicou que o Araçatuba ficava atrás de uma montanha que conseguíamos enxergar. Acrescentou que o Perdidos ficava a 6 km daquele local, no entanto, o percurso era um dos mais elevados. Abasteci a mochila de hidratação, tomei uma sopa, momento em que chegou o último colocado. Saí deste posto às 6h58min em direção aos Perdidos. Subida muito demorada, com muitas curvas e de difícil orientação, pois as torres do Morro dos Perdidos são encobertas por outras montanhas em alguns momentos. A subida tem muitas curvas, porém, em determinado ponto, basta olhar para as torres no alto do Morro dos Perdidos e correr até elas. A estrada tem muitas pedras, um pouco de terra mole e um trecho de terra dura. Quando cheguei ao alto do Morro tinha um posto de controle e um staff se apresentou como “fecha trilha”. Nesse momento, oficialmente, eu era o último dos 80k. Não por muito tempo!
            Durante a descida do Morro dos Perdidos, feita por uma trilha com muita lama, o staff recebeu uma mensagem pelo rádio de que um atleta dos 80k havia errado o caminho e estava subindo novamente o Morro dos Perdidos. Ele havia chegado ao alto e voltou pelo lado errado. Deixei de ser o último colocado nesse momento.
            Depois da longa descida pela trilha, cheguei na estrada que havia subido e continuei descendo até o posto dos 45km dos 80k. Percorri esse trajeto em 10h16min.
           Comi uma laranja da staff, tomei um suco e segui por uma mata fechada no morro Araçatuba em direção ao ponto de corte no km 55. Uma trilha aberta na mata com lama, muita subida, algumas descidas e poucas descidas. Próximo de uma cachoeira, sofri minha única queda na prova e acho que perdi meu óculos nesse momento.
          Em determinado ponto fui alcançado pelo fecha trilhas e, novamente, voltei a ser o último colocado.
       Um interminável vai e vem com muitas conexões entre as provas de 80k, 45k e 25k, além de paisagens belíssimas do alto do Morro Araçatuba e não chegava ao ponto de corte. Por volta do km 50, estourei o tempo e ultrapassei às 13hs de prova. Mesmos assim, continuei e percorri o resto do trajeto até o km 55, onde, oficialmente, fui cortado da prova por estourar o tempo de corte. Eram 15h05min de prova.
            Isso foi o máximo que consegui naquele dia. Se não pude ir mais, era porque estava além das minhas forças naquele momento. UM DIA AINDA VOLTO PARA TERMINAR ESSA PROVA.

Um comentário:

  1. Prezado amigo João Carlos obrigado pelo envio do seu relato e por nos proporcionar tantas informações sobre essa prova, espero um dia correr essa prova. Uma pena você não ter ido até o final, mas espero que você retorne e conclua ela um dia mesmo assim Parabéns amigo.
    Forte abraço,

    Jorge Cerqueira

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