quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Medalhas e Troféus

Por Rodolfo Peregrino
São Paulo
Tanto os troféus quanto as medalhas se caracterizam como a representação da vitória em algum evento de caráter competitivo. Particularmente, seu uso tornou-se bastante comum em eventos desportivos.

Dias após o término da prova ouço alguns reclamos sobre diversos fatores contingentes da prova, como mudança de local da largada, mudança do horário (que foram necessárias devido a determinação dos administradores das cidades) e também da "medalha" ofertada a cada atleta que concluísse a prova e que desagradou uma parte considerável dos ultramaratonistas. Ao menos uma dessas reclamações foi postada na rede em um blog de corridas.

Em conversa com o organizador da prova, Mário Lacerda, soube sua versão e sua escolha por entregar umamedalha que significasse aquele momento, num formato pouco usual e num material também diferente. Essa medalha, carinhosamente ou não, foi apelidada de “crachá”, tamanha a similaridade com aquele documento universalmente utilizado para acessar as mais variadas dependências, empresas, transportes, eventos etc.

A indignação de alguns guerreiros somada à decepção de outros me fez lembrar da importância desse objeto  presente nas competições desde mais de um século.

Eu participei de 600 provas de corrida, rua, montanhas, pista e outras, tenho todas as medalhas, nem todas, pois recebi algumas de material não durável ou perecível (louça, cristal, plástico e acrílico).

O meu objetivo nesta reflexão é analisar todos os envolvidos nesse ritual de fazer, criar, premiar e receber medalhas. Então fica claro que há uma importância grande no tema, na medalha, sua confecção, o material, a temática até a sua entrega ao atleta que treinou, se dedicou, e lutou para alcançar um objetivo, concluir uma prova, um desafio e ter de modo físico, tangível e durável algo que re representasse essa vitória.

PROVAS
Organizar uma prova de ultramaratona (e qualquer outra) é algo grandioso, dificultoso, complexo, são muitos detalhes, muitas tarefas, muitos problemas a resolver. Existem ao menos dois objetivos de um organizador de provas, mercantil (financeiro) e realização pessoal. Porém o objetivo maior a meu ver, deverá sempre ser o atleta, pois é a peça mais importante em toda essa equação, sem corredor não existe uma corrida, sem corrida existem corredores.

NÍVEL DE EXIGÊNCIA
Quando se trata do ser humano, o que é imprescindível, contingente e necessário em qualquer evento ou atividade humana, temos uma gama infinita de gostos, apegos, ideias, julgamentos, anseios e opiniões. Isso resulta numa dificuldade ainda maior para o organizador se seu intuito é agradar, abraçar e suprir as    demandas de cada um e de todos os corredores.

A MEDALHA
A medalha é apenas um dos itens nesse conjunto imenso de coisas a fazer no evento “corrida”, ela se soma à segurança, apoio, saúde, controle do trânsito, mil autorizações, hidratação, aferição de resultados, divulgação e o não menos aguardado kit (numeral, camiseta, medalhas e brindes).

Dos itens entregues ao atleta que concluir uma prova, seja ela qual for, é a medalha, possivelmente é o que dura mais e que numa certa medida, é o que mais representa o sucesso naquele desafio, a vitória pessoal. Mal comparando, é como um diploma, uma certificação da conquista individual que o corredor recebe, mostra       e guarda, e sempre ao vê-la novamente, de lembrar o sacrifício, os treinos, os valores gastos, as dores e a determinação de não desistir. Claro que nada substitui todo esse percurso até a finalização de uma prova, ou a emoção indizível da chegada. Entretanto, aquele pedaço de metal é como algo físico a sinalizar e confirmar  o que dele se poderá lembrar, e é o que restará a cada um de nós, lembrar.

As provas feitas e toda a gama de lembranças, vão se esvaindo e se distanciando na memória até lembrarmos pouco ou nada de determinadas corridas, porém a medalha sempre nos remeterá, assim como uma foto, novamente a toda aquela experiência de vida.

TIPOS DE MEDALHAS
Eu participei de 600 provas, desde provas de 1 milha (1.609 m) até provas de 217 km (135 milhas), tenho quase todas as medalhas, e porque quase todas, porque já recebi um prato, uma taça de vidro, acrílico, madeira, mini-troféu e o que mais a criatividade, a verba ou o capricho do organizador puder realizar.

Por outro lado, inúmeros organizadores primam por criar e entregar medalhas muito bonitas, duráveis, algumas pequenas (Comrades) outras bem grandes, e sempre foi assim na BRAZIL135 nas vezes que concluí a prova.

DECEPÇÃO
Ao final dessa breve análise, anexo um relato forte de um atleta que ficou extremamente frustrado e decepcionado com a medalha que recebeu, sua comunicação foi lida pelo organizador que se desculpou no mesmo blog de sua narrativa. Também anexo imagens de outras medalhas e em especial as medalhas da maior ultramaratona do planeta, mais antiga e a mais receptiva prova em atividade, nada mais e nada menos do que a COMRADES MARATHON, que aos 100 anos não para de evoluir, crescer, incluir e criar novidades   para premiar, abraçar e agradar sobremaneira seus milhares de inscritos anualmente (mais de 20.000 inscritos neste ano de 2022).

CONCLUSÃO
Ao tomarmos uma decisão para a realização de um plano, no caso um evento de corrida, a simplicidade prática será sempre uma boa conselheira pois quando queremos criar, inovar e inventar algonovo, estaremos ultrapassando um limiar da certeza, do ponderado e do esperado. Como isso pode ser aplicado na prática, ou, na escolha e confecção de uma medalha?

Se a opção do organizador é a simplicidade, então dificilmente ele vai errar, quer dizer, uma medalha comum, de metal, com os dizeres suficientes, não vai gerar nada além do conformismo ou alegrias naturais.

Se a opção do organizador é inovar, então ele deve primar por não errar os mesmos erros de outros organizadores no passado, exemplo:

No dia 7 de setembro de 2003, eu corri uma prova maravilhosa, sempre realizada no dia da independência do Brasil, sete de setembro, prova brilhantemente organizada pelo bi-campeão da São Silvestre José João da Silva no Ipiranga, ícone da nossa independência. Ao final a medalha entregue era de acrílico transparente (eu já possuía outras similares que o tempo resolveu sumir com a impressão, a grita foi geral e a insatisfação chegou ao organizador por e-mail, correio, fax, telefone etc. Caprichoso JJS, que foi atleta e sabe como “toca a gaita”, encomendou nova medalha, agora em metal e enviou a todos que fizeram a prova, tenho as duas. Esse simples gesto, que representa um abraço no atleta, manteve a prova em alta e o organizador em grande estima.

À esquerda a medalha entregue na linha de chegada da prova, à direita a substituição por metal.
René Descartes, filósofo e matemático francês, criador do método cartesiano (cartesianismo), escreveu um livro; Discurso sobre o Método, destaco os quatro preceitos lógicos no alicerce do pensar.

1º) jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal, isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção;
2º) dividir cada uma das dificuldades que eu examinar em tantas parcelas quantas possíveis e necessárias fossem para melhor resolvê-las:
3º) conduzir, por ordem, meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e
4º) fazer, em toda parte, enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse a certeza de nada omitir.

Por fim destaco algumas frases que ilustram o cuidado com os detalhes:

O diabo mora nos detalhes. provérbio alemão

Detalhe é palavra de origem latina, derivada da palavra taliare cortar, dividir. É pedaço ou parte.

Nem Deus nem o Diabo, o apego mora nos detalhes

Um exemplo de indignação do corredor diante das medalhas recebidas:
As piores medalhas de todos os tempos, parece latas velhas, vergonha para pagar esta fortuna😟😟😟

COMRADES MARATHON
Essa ultramaratona é um paradigma em termos de organização, participação, motivação, antiguidade e grandiosidade. Tive o imenso prazer de participar em duas oportunidades, 2007 e 2011.

No quesito medalhas, impera um cuidado e uma dedicação à importância desse verdadeiro objeto do desejo, a começar pelo tamanho da medalha para uma prova de 89 km. A medalha possui em torno de 29mm de diâmetro, voltando ao Brasil, mostrei essa medalha a um colega corredor e ele exclamou:  isso?

Outra dinâmica na criação de medalhas como premiação pelo esforço na COMRADES, é a variedade, abaixo um resumo das 9 medalhas em vigor na prova.
Medalha Vic Clapham ou Comrades Finishers, que é feita de cobre, foi introduzida pela primeira vez e foi concedida aos corredores que terminaram entre as 11:00 e as 12:00 horas.

medalha Comrades Bronze foi introduzida pela primeira vez em 1972 para corredores que terminaram entre 7h30 e sub 11h. (Isso foi alterado no ano 2000, quando a Bill Rowan foi introduzido e novamente em 2019, quando a medalha Robert Mtshali foi introduzida).

A Medalha Robert Mtshali. Em 1935, Robert Mtshali se tornou o primeiro corredor negro não oficial a terminar Comrades Marathon quando cruzou a linha em um tempo de 9h30.
40 anos depois, em 1975, a prova foi aberta a todos os atletas pela primeira vez, A medalha Robert Mtshali, feita de titânio, foi apresentada pela primeira vez na Comrades em 2019 e é concedida aos corredores que terminarem o Comrades entre 9h e menos de 10h.

A Medalha Bill Rowan. Bill Rowan foi a primeira pessoa a vencer Comrades Marathon em 1921. Ele terminou em 8h5min. Foi no ano 2000 que a medalha Bill Rowan foi introduzida pela primeira vez. Esta medalha de bronze centrada que tem um anel externo de prata é concedida a qualquer um que termine o Comrades entre 7h30 e 9h.

A medalha de prata na Comrades é a medalha que existe há mais tempo. Foi a primeira medalha que foi concedida a todos os finalistas que terminaram abaixo de 12 horas em 1921. Permaneceu como a única medalha de camaradas até a introdução da medalha de ouro 10 anos depois, em 1931.

A medalha Isavel Roche-Kelly. Juntamente com a medalha Robert Mtshali, 2019 também viu a introdução da medalha Isavel Roche-Kelly. Em 1980, Isavel Roche-Kelly tornou-se a primeira mulher a quebrar a marca de 7h30 quando ela finalizou a prova em 7h18 para receber sua primeira, de duas vitórias na Comrades. Esta medalha de prata centrada que tem um anel externo de ouro é concedida apenas às mulheres que terminam fora do top 10, mas abaixo da marca de 7h30min.

A Medalha Wally Hayward. Wally Hayward é uma lenda da Comrades. Ele não apenas quebrou o recorde do Comrades 3 vezes em 5 de suas vitórias no Comrades, mas também detém o recorde de ser o finalizador mais velho de todos os tempos. Aos 80 anos, em 1989, Wally conquistou os corações de todos que assistiram naquele ano quando cruzou a linha em 10h58m03. Assim como a medalha Isavel Roche-Kelly, a medalha Wally Hayward também é metade prata e metade ouro. É concedida aos corredores que não terminam entre os 10 primeiros, mas que finalizam em menos de 6h.

Medalha da Maratona dos Camaradas de Ouro. A ilustre medalha de ouro da Comrades foi introduzida pela primeira vez em 1931 e foi concedida aos primeiros 6 atletas a cruzar a linha de chegada. Isso foi estendido aos primeiros 10 atletas em 1972. Foi somente em 1983 que uma medalha de ouro foi concedida à primeira mulher a cruzar a linha. Isso foi aumentado para 3 em 1988 e, em 1995, as 5 melhores mulheres receberam ouro. Em 1998, as 10 melhores mulheres receberam  medalhas de ouro pela primeira vez.

Medalha dos Camaradas Back to Back (ida e volta). A medalha Back to Back Comrades foi introduzida pela primeira vez em 2005. Para se qualificar para uma medalha Back to Back, você precisa atender aos seguintes critérios: Você precisa ser um estreante na Comrades e você precisa completar duas Maratonas Comrades consecutivas.

(*) Fonte: página oficial da Comrades Marathon
A COMRADES MARATHON concede outras duas honrarias e homenagens aos seus participantes; Green Number e o Wall of Honour. O Green Number é a concesssão de um número perpétuo após concluir 10 provas finalizadas, além de fazer parte de um clube dos Greens Numbers, o Wall of Honour é o nome do atleta gravado num muro no percurso da prova. Em 2019 havia 12.839 atletas que alcançaram esse feito desde 1921. O recorde de provas na Comrades Marathon pertence a dois atletas Louis Massyn e Barry Holland, que completar 46  vezes; e a atleta Kleintjie Van Schalkwyk que completou que completou 34 vezes, pertence a dois atletas Louis Massyn e Barry Holland, que completaram 46   vezes; a atleta Kleintjie Van Schalkwyk que completou 34 vezes, considerando que as mulheres não podiam participar antes de 1975.

Mural de Medalhas
Anexo:
Fonte: www.jmaratona.com publicado em 18 de janeiro de 2022.


2 comentários:

  1. Parabéns! Meu amigo, não consegui lê todo conteúdo agora, mas sei que é de motivação ao esporte, na verdade eu acho que o Sr é sinônimo de motivação! Grande abraço,

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