Por Dráuzio Varela
Médico e Corredor
Maratonas exigem
condições anatômicas apropriadas, tempo e espaço para treinamentos e,
sobretudo, determinação. Depois de um mês de treinamento, qualquer jovem que
não fume é capaz de completar provas de 15 quilômetros como a São Silvestre;
maratonas, não.
Na noite anterior,
você acorda às 2:30 com a sensação de que perdeu a hora. Às 3:40, outro susto,
que se repete trinta minutos mais tarde.
A largada é um mar de
camisetas coloridas. O pelotão de elite dispara na frente; quase todos são
negros. Jamais serão alcançados por qualquer adversário: correm a vinte
quilômetros por hora. Ganhará a competição o que tiver cara de mais doente.
A ralé larga como uma
onda que avança com lentidão até encontrar espaço para correr. A excitação é
grande, muitos gritam e pulam para comemorar; os mais experientes não abrem a
boca.
É uma prova que exige
planejamento. Em qualquer ponto do trajeto, a velocidade precisa levar em conta
os quilômetros que faltam, o menor erro de cálculo coloca tudo a perder. Do
primeiro ao último colocado, todos testarão o limite das forças.
A torcida nas ruas faz
um espetáculo à parte. Grita, bate palmas, carrega cartazes com o nome dos
participantes, palavras de incentivo, faixas dizendo que só Jesus salva e que o
caminho do céu exige sacrifício semelhante. Em pontos estratégicos, bandas de
rua tocam músicas barulhentas.
Nos dois ou três
primeiros quilômetros o suor escorre e a respiração fica tão descontrolada que
dá vontade de parar. Com esse fôlego ridículo, como ir até o fim?
Pouco a pouco, o ritmo
respiratório e as batidas do coração se ajustam às necessidades dos músculos, a
falta de ar desaparece e a sudorese diminui. O corpo entra em sintonia com o
esforço exigido.
A passagem pelo quilômetro
21 desperta reações contraditórias: o alívio de que metade já foi e o medo do
que vem pela frente. Se já custou chegar até aqui!
Ao redor do quilômetro
30, ficou para trás a euforia. Não fossem as manifestações da torcida, o
silêncio seria sepulcral. Ninguém mais admira a paisagem, os olhares se
concentram no asfalto; o pensamento, na mobilização da energia que resta para
sobreviver.
Precisei de algumas
maratonas para entender que elas começam no quilômetro 35, de fato, quando as
forças abandonam o corpo e a aparência dos companheiros de infortúnio se torna
lamentável. A julgar por ela, fica evidente que maratonas não podem fazer bem
para o corpo humano.
Os quilômetros finais
são dominados por um mantra que toma conta do cérebro: falta pouco, preciso
chegar, falta pouco, preciso chegar… Os músculos das pernas parecem elásticos
prestes a romper, as solas dos pés estão insensíveis, as costas doem, a cabeça
fica oca, o corpo é um fardo insuportável, não há o que justifique um ser
humano passar pelo que estou passando, mas não vim até aqui para andar, é
preciso correr.
A visão da linha de
chegada traz um pequeno alívio. Ao cruzá-la, nenhuma alegria, apenas a
felicidade de parar de correr. Segundos depois, a plenitude de uma paz.
Marcelo Campos de Oliveira
ResponderExcluirImagina se ele fizesse Ultramaratonas.....rsrsrsr
rss
ExcluirBenedito
ResponderExcluirDr. Dráuzio, desculpe -me a sinceridade, mas o senhor está correndo de forma errada.Está gastando mais energia do que pode produzir, ou seja, está correndo num pace baixo para seu condicionamento.
vandinha
ResponderExcluirEm uma maratona você morrer e renascer varias vezes, vira Fênix!