quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Corrida virtual é como desfilar na Sapucaí de arquibancada vazia

Philipe Deschamps
É jornalista, corredor amador e integrante da ACORUJA desde 2004.

Pense rápido: que modalidade esportiva junta atletas profissionais e amadores em um mesmo espaço de uma competição oficial? Corrida de rua, triathlon e natação no mar são os três que me vem à mente logo de cara. Nas duas últimas, no entanto, você é capaz de contar nos dedos as provas disponíveis na cidade do Rio. Definitivamente, não são acessíveis a todos, por vários motivos que você já conhece e cansou de enumerar em alguma resenha depois do treino, encerrando o assunto definitivamente: “a corrida é o esporte mais popular que existe. Basta um tênis velho e você pode treinar em qualquer lugar!”. Quem não concorda? Tem gente que nem tênis usa. Tenho um amigo que corre de Havaianas e, humilhação da humilhação, ainda chega na minha frente – mas isso é outra história.

A popularidade do esporte que amamos não se dá apenas pelo fato de exigir poucos recursos para a sua prática. A possibilidade do atleta amador dividir a mesma rua, enfrentar as mesmas curvas, ultrapassar os mesmos obstáculos e cruzar a mesma linha de chegada de Eliud Kipchoge – e ainda ganhar uma medalha por isso – coloca o corredor amador em uma dimensão que o peladeiro profissional, por exemplo, dificilmente terá. Ou você imagina o jogador do Aterro no Camp Nou dividindo o campo com Lionel Messi? Ou o tenista do Piraquê batendo uma bolinha na grama sagrada de Wimbledon? Pois é. Impossível. Mas dá pra a gente fazer umas economias e largar pertinho do Kipchoge na Maratona de Nova York. Dá? Bom, até uns meses atrás, dava. Não dá mais. Pelo menos até surgir uma vacina contra a Covid-19, estamos confinados, treinando sozinhos e de máscara.

Pra amenizar a nossa dor e a saudade das provas tradicionais, os organizadores das principais corridas estão promovendo provas virtuais, em que você corre, sozinho, o dia que quiser e onde quiser, respeitando apenas a distância estabelecida. A medalha chega pelo correio, mas a emoção de participar da Volta da Pampulha ou da Corrida da Garoto fica na lembrança.

Nenhuma medalha entregue em casa é capaz de substituir a sensação do aperto da largada de uma São Silvestre, dos primeiros kms vencidos da Niemeyer na Meia do Rio, do calor sufocante da São Sebastião ou da visão triunfal da placa indicando o km 42 no Aterro do Flamengo na Maratona do Rio

Treinar sozinho ok. Faz parte do sacrifício que, repetido mil vezes, nos credencia a ter o privilégio de acordar de madrugada, depois de quase não dormir de ansiedade na noite anterior, e enfrentar a multidão de uma largada tumultuada, suada, aglomerada, abraçada... exatamente tudo o que precisamos evitar

Pois é. Corrida virtual não dá, né? É como desfilar na Sapucaí com a arquibancada vazia. Melhor esperar sozinho a banda passar e se preparar pra curtir o nosso Carnaval em 2021. Será?

2 comentários:

  1. Realmente uma corrida virtual não chega aos pés de uma corrida real com todas as suas emoções nossos perrengues as vezes viajamos por horas pra poder correr . Porém nesse momento tão difícil que a humanidade está passando eu acho válido a corrida virtual ou qualquer outro incentivo . Abraçao

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    Respostas
    1. Bom dia meu amigo André concordo com você e aí tá treinando meu amigo? Lembre-se que o treino jamais deve parar.
      Forte abraço.

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